EDUCAÇÃO E ARTE: SONHAR, CONSTRUIR, REALIZAR.

Sobre o ABA

Projeto premiado com a XI edição do Prêmio Arte na Escola Cidadã do Instituto Arte na Escola/ Fundação IOCHPE como a melhor iniciativa em artes do ensino médio em 2010.
O Auto da Barca Amazônica é uma iniciativa em ensino de artes para alunos de escolas públicas.O espetáculo foi criado em 2007 pelos professores Jaqueline Cristina Sosi , artista da cena e Paulo Anete, carnavalesco.A iniciativa tem por objetivos trabalhar a linguagem cênica (teatro, dança circo e cenografia) que resulta na produção de um grande cortejo que sai pelas ruas da cidade de Abaetetuba,localizada na região do baixo Tocantins, estado do Pará
Fiquem à vontade e divulguem nosso trabalho.

Palavras chave:
educação; arte; cortejo;carnaval;circo;teatro;dança

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

DESAGRAVO DO PROFº IGOR P. WILDMANN


 Amigos,
Embora há muito tempo desligado daquela instituição, como ex-professor do Instituto Metodista Izabela Hendrix, fiquei profundamente consternado com o caso do universitário que, revoltado com suas notas baixas, cravou uma faca no coração de seu professor, na cantina, em pleno horário escolar, à frente de todos.
Escrevi um desagravo e, em minha opinião, a pérfida ilusão vendida a muitos alunos despreparados, sobre a escola (e a vida) como lugares supostamente cheios de direitos e pobres em deveres, acaba por contribuir para ambientes propensos à violência moral e física.
Espero que, se concordarem com os termos, repassem adiante, sem moderação. A divulgação é livre.
Abraços
Igor
J’ACUSE!!! (Eu acuso!!!). (Tributo ao professor Kássio Vinícius Castro Gomes).

Mon devoir est de parler, je ne veux pas être complice
 (Meu dever é falar, não quero ser cúmplice). (Émile Zola)
Foi uma tragédia fartamente anunciada. Em milhares de casos, desrespeito. Em outros tantos, escárnio. Em Belo Horizonte, um estudante processa a escola e o professor que lhe deu notas baixas, alegando que teve danos morais ao ter que virar noites estudando para a prova subsequente. (Notem bem: o alegado “dano moral” do estudante foi ter que... estudar!).
A coisa não fica apenas por aí. Pelo Brasil afora, ameaças constantes. Ainda neste ano, uma professora brutalmente espancada por um aluno. O ápice desta escalada macabra não poderia ser outro.
O professor Kássio Vinícius Castro Gomes pagou com sua vida, com seu futuro, com o futuro de sua esposa e filhas, com as lágrimas eternas de sua mãe, pela irresponsabilidade que há muito vem tomando conta dos ambientes escolares.
Há uma lógica perversa por trás dessa asquerosa escalada. A promoção do desrespeito aos valores, ao bom senso, às regras de bem viver e à autoridade foi elevada a método de ensino e imperativo de convivência supostamente democrática.
No início, foi o maio de 68, em Paris: gritava-se nas ruas que “era proibido proibir”. Depois, a geração do “não bate, que traumatiza”. A coisa continuou: “Não reprove, que atrapalha”. Não dê provas difíceis, pois “temos que respeitar o perfil dos nossos alunos”.
Aliás, “prova não prova nada”. Deixe o aluno “construir seu conhecimento.” Não vamos avaliar o aluno. Pensando bem, “é o aluno que vai avaliar o professor”. Afinal de contas, ele está pagando...
E como a estupidez humana não tem limite, a avacalhação geral epidêmica, travestida de “novo paradigma” (Irc!), prosseguiu a todo vapor, em vários setores: “o bandido é vítima da sociedade”, “temos que mudar ‘tudo isso que está aí’; “mais importante que ter conhecimento é ser ‘crítico’.”
Claro que a intelectualidade rasa de pedagogos de panfleto e burocratas carreiristas ganhou um imenso impulso com a mercantilização desabrida do ensino: agora, o discurso anti-disciplina é anabolizado pela lógica doentia e desonesta da paparicação ao aluno – cliente...
Estamos criando gerações em que uma parcela considerável de nossos cidadãos é composta de adultos mimados, despreparados para os problemas, decepções e desafios da vida, incapazes de lidar com conflitos e, pior, dotados de uma delirante certeza de que “o mundo lhes deve algo”.
Um desses jovens, revoltado com suas notas baixas, cravou uma faca, com dezoito centímetros de lâmina, bem no coração de um professor. Tirou-lhe tudo o que tinha e tudo o que poderia vir a ter, sentir, amar.
Ao assassino, corretamente , deverão ser concedidos todos os direitos que a lei prevê: o direito ao tratamento humano, o direito à ampla defesa, o direito de não ser condenado em pena maior do que a prevista em lei. Tudo isso, e muito mais, fará parte do devido processo legal, que se iniciará com a denúncia, a ser apresentada pelo Ministério Público. A acusação penal ao autor do homicídio covarde virá do promotor de justiça. Mas, com a licença devida ao célebre texto de Emile Zola, EU ACUSO tantos outros que estão por trás do cabo da faca:
EU ACUSO a pedagogia ideologizada, que pretende relativizar tudo e todos, equiparando certo ao errado e vice-versa;
EU ACUSO os pseudo-intelectuais de panfleto, que romantizam a “revolta dos oprimidos” e justificam a violência por parte daqueles que se sentem vítimas;
EU ACUSO os burocratas da educação e suas cartilhas do politicamente correto, que impedem a escola de constar faltas graves no histórico escolar, mesmo de alunos criminosos, deixando-os livres para tumultuar e cometer crimes em outras escolas;
EU ACUSO a hipocrisia de exigir professores com mestrado e doutorado, muitos dos quais, no dia-a-dia, serão pressionados a dar provas bem tranquilas, provas de mentirinha, para “adequar a avaliação ao perfil dos alunos”;
EU ACUSO os últimos tantos Ministros da Educação, que, em nome de estatísticas hipócritas e interesses privados, permitiram a proliferação de cursos superiores completamente sem condições, frequentados por alunos igualmente sem condições de ali estar;
EU ACUSO a mercantilização cretina do ensino, a venda de diplomas e títulos sem o mínimo de interesse e de responsabilidade com o conteúdo e formação dos alunos, bem como de suas futuras missões na sociedade;
EU ACUSO a lógica doentia e hipócrita do aluno-cliente, cada vez menos exigido e cada vez mais paparicado e enganado, o qual, finge que não sabe que, para a escola que lhe paparica, seu boleto hoje vale muito mais do que seu sucesso e sua felicidade amanhã;
EU ACUSO a hipocrisia das escolas que jamais reprovam seus alunos, as quais formam analfabetos funcionais só para maquiar estatísticas do IDH e dizer ao mundo que o número de alunos com segundo grau completo cresceu “tantos por cento”;
EU ACUSO os que aplaudem tais escolas e ainda trabalham pela massificação do ensino superior, sem entender que o aluno que ali chega deve ter o mínimo de preparo civilizacional, intelectual e moral, pois estamos chegando ao tempo no qual o aluno “terá direito” de se tornar médico ou advogado sem sequer saber escrever, tudo para o desespero de seus futuros clientes-cobaia;
EU ACUSO os que agora falam em promover um “novo paradigma”, uma “ nova cultura de paz”, pois o que se deve promover é a boa e VELHA cultura da “vergonha na cara”, do respeito às normas, à autoridade e do respeito ao ambiente universitário como um ambiente de busca do conhecimento;
EU ACUSO os “cabeça-boa” que acham e ensinam que disciplina é “careta”, que respeito às normas é coisa de velho decrépito,
EU ACUSO os métodos de avaliação de professores, que se tornaram templos de vendilhões, nos quais votos são comprados e vendidos em troca de piadinhas, sorrisos e notas fáceis;
EU ACUSO os alunos que protestam contra a impunidade dos políticos, mas gabam-se de colar nas provas, assim como ACUSO os professores que, vendo tais alunos colarem, não têm coragem de aplicar a devida punição.
EU VEEMENTEMENTE ACUSO os diretores e coordenadores que impedem os professores de punir os alunos que colam, ou pretendem que os professores sejam “promoters” de seus cursos;
EU ACUSO os diretores e coordenadores que toleram condutas desrespeitosas de alunos contra professores e funcionários, pois sua omissão quanto aos pequenos incidentes é diretamente responsável pela ocorrência dos incidentes maiores;
Uma multidão de filhos tiranos que se tornam alunos-clientes serão despejados na vida como adultos eternamente infantilizados e totalmente despreparados, tanto tecnicamente para o exercício da profissão, quanto pessoalmente para os conflitos, desafios e decepções do dia-a-dia.
Ensimesmados em seus delírios de perseguição ou de grandeza, estes jovens mostram cada vez menos preparo na delicada e essencial arte que é lidar com aquele ser complexo e imprevisível que podemos chamar de “o outro”.
A infantilização eterna cria a seguinte e horrenda lógica, hoje na cabeça de muitas crianças em corpo de adulto: “Se eu tiro notabaixa, a culpa é do professor. Se não tenho dinheiro, a culpa é do patrão. Se me drogo, a culpa é dos meus pais. Se furto, roubo, mato, a culpa é do sistema. Eu, sou apenas uma vítima. Uma eterna vítima. O opressor é você, que trabalha, paga suas contas em dia e vive sua vida. Minhas coisas não saíram como eu queria.
Estou com muita raiva. Quando eu era criança, eu batia os pés no chão. Mas, agora, fisicamente, eu cresci. Portanto, você pode ser o próximo.”
Qualquer um de nós pode ser o próximo, por qualquer motivo. Em qualquer lugar, dentro ou fora das escolas. A facada ignóbil no professor Kássio dói no peito de todos nós. Que a sua morte não seja em vão. É hora de repensarmos a educação brasileira e abrirmos mão dos modismos e invencionices. A melhor “nova cultura de paz” que podemos adotar nas escolas e universidades é fazermos as pazes com os bons e velhos conceitos de seriedade, responsabilidade, disciplina e estudo de verdade.
Igor Pantuzza Wildmann
Advogado—DoutoremDireito.Professoruniversitário

Educação de qualidade é possível, sem enganações, basta acordarmos e darmos as mãos. Jaqueline Souza

sábado, 22 de janeiro de 2011

Essa calou a boca dos americanos


ESSA CALOU OS AMERICANOS.!!! 
SHOW DO MINISTRO BRASILEIRO DE EDUCAÇÃO NOS ESTADOS UNIDOS 

Essa merece ser lida, afinal não é todo dia que um brasileiro dá um esculacho educadíssimo nos americanos! 

Durante debate em uma universidade, nos Estados Unidos,o ex-governador do DF, ex-ministro da educação e atual senador CRISTÓVAM BUARQUE, foi questionado 
sobre o que pensava da internacionalização da Amazônia. 

O jovem americano introduziu sua pergunta dizendo que esperava a resposta de um Humanista e não de um brasileiro. 

Esta foi a resposta do Sr..Cristóvam Buarque: 

"De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso. 

"Como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia, posso imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a humanidade. 

"Se a Amazônia, sob uma ética humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro.O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia 
para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou 
diminuir a extração de petróleo e subir ou não o seu preço." 

"Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser 
internacionalizado. Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um país. 
Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação. 

"Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. 
Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se pode deixar esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural Amazônico, seja manipulado e instruído pelo gosto de um proprietário 
ou de um país. Não faz muito, um milionário japonês,decidiu enterrar com ele, um quadro de 
um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado. 

"Durante este encontro, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu acho que Nova York, 
como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada. Pelo menos Manhatan deveria pertencer a toda a humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua historia do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro. 

"Se os EUA querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas 
mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maiores do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil.

"Defendo a idéia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do Mundo tenha possibilidade de COMER e de ir à escola. 
Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro. 

"Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. 
Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia 
seja nossa. Só nossa!
 DIZEM QUE ESTA MATÉRIA NÃO FOI PUBLICADA, POR RAZÕES ÓBVIAS. AJUDE A 
DIVULGÁ-LA, SE POSSÍVEL FAÇA TRADUÇÃO PARA OUTRAS LÍNGUAS QUE DOMINAR.
 

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Reportagem Revista Onda Jovem de São Paulo Edição 21




Foto: Arquivo PessoalRio de histórias 

Quando Jaqueline Cristina Souza da Silva chegou para assumir seu posto de professora de Arte no Colégio São Francisco Xavier, em Abaetetuba, no Pará, região de rica cultura popular, encontrou os alunos se preparando para a festa de Halloween, o tradicional dia das bruxas comemorado nos Estados Unidos. Discordou dessa importação. E, em parceria com o professor Paulo Anete, exumou personagens de mitos e lendas amazônicos, como a feiticeira Matinta Perera, e montou com os alunos um cortejo com estrutura carnavalesca que atravessou a cidade em 2007, com o tema “A Noite de Lua Cheia”. A referência é feita à reunião das antigas gerações na beira do rio, nas noites de lua cheia, para contar e ouvir histórias de assombrações. Assim, foi inaugurado o “Auto da Barca Amazônica”, que em 2010 recebeu o prêmio Arte na Escola Cidadã, do Instituto Arte na Escola, como melhor projeto voltado ao ensino médio.

Abaetetuba é cortada por um rio. Dele vêm lendas, histórias, cultura, tráfico, pirataria, drogas. Jaqueline explorou o positivo para enfrentar o negativo. A cultura regional voltou no desfile de 2008 com “Lendas da Cobra Grande”. Há praticamente uma história de cobra grande em cada cidade da área, como foi constatado pela pesquisa histórica feita para o trabalho. Os colonizadores se apropriaram das lendas já existentes e incrementaram o enredo, localizando a cabeça da cobra sob a igreja matriz. Se ela se mexer, afunda toda a cidade.

No ano seguinte, o tema foi “Cordões de Pássaro”, resgatando uma manifestação cultural que estava em extinção porque, sem registro, ia se perdendo com a morte dos habitantes mais velhos. A pesquisa constatou que, com encenações de dança burlesca, este tipo de apresentação contava a história do pássaro encantado que protege a floresta amazônica e que tem como guardiã uma moça, mas é caçado pelos que querem destruir a floresta. Nesta edição, 2009, o cortejo, que começou com 200 participantes, já tinha perto de dois mil jovens de 14 a 23 anos e mobilizava toda Abaetetuba. Com comissões e alas, parando em vários pontos, o auto usa técnicas de teatro-dança para contar suas histórias.

Em 2010, foi feita uma edição especial retrospectiva do projeto, para um documentário realizado para o Arte na Escola que pode ser visto no blog www.autodabarcamazonica. blogspot.com. “Um dos objetivos era trazer e aumentar o tempo do aluno na escola, manter os problemas a distância. Eles serão os futuros multiplicadores do projeto que, quem sabe, no futuro, vá gerar renda”, diz Jaqueline. O desempenho escolar já melhorou e a ideia é avançar com a abertura à participação de outras escolas, buscando parcerias pela inscrição do projeto em editais de leis de incentivo fiscal.
Foto: Divulgação “Se o Estado tiver de optar entre oferecer cesta básica ou cultura, deve desistir da cesta básica.” Essa opção preferencial pela cultura soou mais como uma provocação quando foi enunciada anos atrás por um diretor teatral crítico das políticas públicas. Mas hoje, a julgar pelos resultados dos projetos inovadores descritos a seguir, privilegiar a cultura pode ser encarado como uma ideia mais que razoável.

Experiências no ensino fundamental e médio com enfoque na arte e cultura têm atestado surpreendente poder de transformação. Seja em uma escola de bairro, ou envolvendo uma cidade inteira, mais que a teoria, a força destas iniciativas está na capacidade de mobilizar a comunidade em que os projetos estão inseridos. E, como medida para o futuro, os novos parceiros que conseguirem atrair para seus objetivos.
A trilha da cidade 

Em 2003, o maestro Vantoil de Souza Júnior começou a avaliar na prática sua tese: a de que a música poderia representar um grande diferencial na educação, capaz de ser um instrumento poderoso no desenvolvimento dos alunos e de cumprir uma função social. Um dos principais responsáveis pela implantação do “Projeto Música nas Escolas” em Barra Mansa, estado do Rio, nos anos seguintes o maestro viu sua tese original ser embasada por números superlativos. Hoje, o projeto não só atende 22 mil crianças e jovens, como inclui sete corpos musicais estáveis e é responsável por uma nova história da cultura local.

“O impacto na cidade foi enorme. Antes, a atividade cultural era quase nula. Agora tem temporada oficial de concertos, além da apresentação de, ao menos, um balé e uma ópera por ano. O acesso à boa música formou público e a platéia cresce dia a dia”, diz Souza Júnior.

A música faz parte da atividade das creches e do currículo de 72 escolas públicas de Barra Mansa e se estende até o Centro Universitário, que já oferece curso superior na área. A melhora nos índices de desempenho escolar foi sensível, o que é atribuído ao desenvolvimento da percepção, do ritmo, do controle motor e da concentração exigidos pela nova disciplina. Outro saldo do projeto, que tem uma parcela de 84% realizada na periferia, é ocupar o tempo ocioso dos alunos e mantê-los afastados de atividades de risco, violência e drogas.

“A melhora no aspecto social foi enorme, e o resultado também muito positivo no rendimento dos alunos na sala de aula, com diminuição do índice de reprovação”, diz Souza Júnior. Ele afirma que, nos primeiros anos de implantação, a redução da delinquência juvenil pôde ser medida pela variação do número de menores infratores internados, de 30 para 3.

Além de a música integrar a grade curricular, a prática instrumental é oferecida como disciplina optativa. Caso o aluno queira participar de um dos grupos musicais oferecidos pelo município, recebe um instrumento em comodato. O projeto gerou sete corpos estáveis: a Orquestra Sinfônica Municipal, a Orquestra Infantojuvenil, a Banda Sinfônica, a Banda Sinfônica Infantojuvenil, a Orquestra de Metais, o grupo de percussão Drum Latas e um coral.

As apresentações, cuja meta é chegar a noventa por ano e acontecer cada vez mais longe de casa, já atraem público de cidades vizinhas, como Volta Redonda, Rezende e Angra dos Reis. O continente é o limite: um dos objetivos de longo prazo é inserir Barra Mansa no circuito musical da América Latina. O preparo é promissor.

A Orquestra Sinfônica Municipal, com 105 membros, recebe muitos solistas convidados, já mereceu workshops da estrela internacional Zubin Mehta e de integrantes da Filarmônica de Israel, da Orquestra de Câmara da República Tcheca e de Isaac Karabtchevsky, que, à frente da OSM num concerto recente, atraiu público de sete mil pessoas ao Parque da Cidade. É neste local que se concentra a nova ambição do projeto: a construção de um teatro.

O projeto Música nas Escolas custa 5 milhões de reais por ano, dos quais 1,5 milhão é captado junto à iniciativa privada, via Lei Rouanet, participação que Souza Júnior espera ver aumentar nos próximos anos. Ele, que além de Coordenador Técnico do projeto também é Controlador Geral do Município, graduado em Música e em Direito Público, espera fechar estas contas num patamar que garanta a manutenção financeira independente. Respaldo ele tem: em 2008, a Câmara atribuiu ao projeto o status de Patrimônio Cultural do Município. Agora, é lei.
Foto: Márcia ZoetTerra de alguém 

O ponto de partida é simples: ninguém depreda o que é seu. Essa é a premissa fundamental na equação do problema de vandalismo na Escola Estadual Canuto do Val, na capital paulista. José Nogueira de Souza, mais conhecido como professor Zeca Nog, devolveu a identidade dos alunos com o espaço em que estudam por meio do projeto “Nossa Cara”. E reverteu um processo histórico: “Ao longo dos anos, aconteceu uma desvalorização da escola pública, foi criado um descompromisso dos alunos e pais por causa da visão de que nessa escola tudo se pode fazer, porque é uma terra de ninguém”, diz.

O professor constatou a relação dessa atitude de desrespeito por meio de outro problema crônico da rede de ensino: as horas ociosas dos alunos em razão da falta de professores, circunstância em que a depredação era mais acentuada. O projeto, basicamente, direcionou a ocupação desse tempo vago dos alunos na revitalização do espaço da escola. Implantado em março deste ano, o “Nossa Cara” mobilizou todas as turmas do ensino fundamental e médio em oficinas de grafites, mosaicos, máscaras de lambe para aplicação nas paredes, restauração de móveis.

A adesão não foi só dos alunos, mas também da diretoria e de boa parte do corpo docente. Em novembro, começou a ser executado um plano anual. Os alunos vão continuar interferindo na estrutura física da escola e restaurar jardins, área de lazer, customizar armários das salas de aula, criar uma sala de leitura ao ar livre, trabalhar com reciclagem, construir bancos com garrafas pet, tecidos, etc. Também deve ser aprofundada a atividade de interação social e integração cultural, de especial importância numa escola em que 20% dos alunos são de origem boliviana, reflexo de uma significativa leva de imigrantes que se estabeleceu no bairro paulistano onde fica a escola, a Barra Funda. Como a alfaiataria é uma das atividades principais destes imigrantes, o projeto vai se estender a oficinas nesta área e já conta com uma máquina de costura e contribuições de ateliês de tecido da região.

Com formação em Filosofia e em Arteterapia, Zeca já detecta efeitos das atividades: “Os alunos estão mais tranquilos, diminuiu o número de atos predatórios e de agressões entre eles, e há um sentimento maior de pertença do espaço físico, surgido da noção semeada de que a escola é deles.” O professor faz a coordenaçãodo projeto, mas são os alunos que o monitoram, porque a ideia é que eles assumam a responsabilidade como agentes da própria história: “O eixo é a valorização da cidadania e a criação de um sentimento de identidade, de ‘eu no mundo’.”

Algumas atividades pontuais da escola foram desenvolvidas em parceria com o Escola Aprendiz e com o Projeto Nossa Barra. O Rotary é um novo parceiro e outras instituições e empresas privadas devem ser contatadas pela Associação de Pais e Mestres. Com os recursos, a ideia é estender o projeto além das horas vagas dos alunos e criar “sábados culturais”, enriquecidos com música, capoeira etc., além de aumentar a participação e presença de pais na escola.

Matéria publicada na Edição 21 - janeiro de 2011 - Palco Juvenil

Artes do ofício 

Projetos pedagógicos de educadores de São Paulo, Rio de Janeiro e Pará atestam o poder transformador da arte e da cultura 

Vera de Sá

Para ver a reportagem acesse o link: