EDUCAÇÃO E ARTE: SONHAR, CONSTRUIR, REALIZAR.

Sobre o ABA

Projeto premiado com a XI edição do Prêmio Arte na Escola Cidadã do Instituto Arte na Escola/ Fundação IOCHPE como a melhor iniciativa em artes do ensino médio em 2010.
O Auto da Barca Amazônica é uma iniciativa em ensino de artes para alunos de escolas públicas.O espetáculo foi criado em 2007 pelos professores Jaqueline Cristina Sosi , artista da cena e Paulo Anete, carnavalesco.A iniciativa tem por objetivos trabalhar a linguagem cênica (teatro, dança circo e cenografia) que resulta na produção de um grande cortejo que sai pelas ruas da cidade de Abaetetuba,localizada na região do baixo Tocantins, estado do Pará
Fiquem à vontade e divulguem nosso trabalho.

Palavras chave:
educação; arte; cortejo;carnaval;circo;teatro;dança

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Sobre o meu Repúdio...

   Tenho tentado manter a minha integridade e luto para que Abaetetuba possa mudar significativamente a sua triste realidade, faço a minha parte, embora essa pequena parte incomode muita gente.Apesar de todo o esforço, as pessoas que insistem em me atacar de modo covarde, são as mesmas que nunca fizeram nada pela localidade.

    Talvez eu tenha fracassado vendo nos olhos tristes do garotos o espelho da minha dor. Não é a primeira derrota, nem será a última.Parafraseando Felício Pontes e Darcy Ribeiro digo que: 
  "Fracassei em quase tudo que fiz. Tentei defender os meninos dos rios, e minha partida me mostra que não consegui. Tentei defender as tradições e as histórias contadas e a arbitrariedade mostra que não consegui. Tentei reviver a cultura de um povo, e a burocracia, a intolerância, a falta de vontade política insistem em mostrar que fracassei. Mas meus fracassos são minhas vitórias. Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu".
É com muita dor e com lágrimas nos olhos que posto isso no dia de hoje.

Evoé ao Auto da Barca Amazônica.
                                                                                                    Jaqueline Souza

sábado, 24 de setembro de 2011

Em Homenagem Oração ao Tempo




     Em homenagem aos amigos que lutam para mostrar que a vontade comum move montanhas.
Especialmente para Paulo Anete. Murilo Nascimento, Jones Gomes,Lúcio Lavareda, Kaio Cardoso , Karina Cardoso, João Vitor. Alberto Valter, Nazinha Ferreira, Angela Gomes, Miguel Caripuna, Miguelina Bitencourt, Giovane e todos que contribuem para a construção de uma sociedade de concretização de sonhos.
     Sou muito grata a todos!

Jaqueline Souza

Sobre a Criminalidade entre os Jovens

   A diminuição da idade penal é uma coisa bastante polêmica,(eu preferia que não existisse criminalidade entre as crianças) porém isso acabou gerando na população uma sensação de impunidade.Ontem à noite, dois garotos perto de minha casa, de aproximadamente quinze anos, brigaram por causa de um celular e um deles foi esfaqueado.Um garoto foi bem mal para o hospital e o outro  que cometeu a violência fugiu e depois voltou por lá como se nada tivesse acontecido.
   A banalidade do motivo ao qual levou a tamanha violência, infelizmente tem se tornado rotina.Durantes todos os dias vemos nos jornais casos de crimes q são cometidos por crianças.O último caso de que o país tem conhecimento é o do estudante de dez anos de uma escola paulista q atirou na professora e depois se matou.
    Vivemos numa incerteza de futuro, num país onde as leis não funcionam, onde políticos que deveriam estar cuidando do futuro da nação, são os primeiros bandidos.A educação que deveria ser tida como prioridade está cada dia mais sucateada.
  O que fazer então? Construir mais cadeias?Diminuir a idade penal? Aderir à pena de morte?
  Infelizmente, sabemos que enquanto não houver uma reforma política séria, as leis criadas não atingem os maiores culpados.As leis existentes hoje, simplesmente servem para penalizar a grande massa populacional que passa fome todos os dias, que é punida por roubar um kilo de feijão para alimentar a família.
 Não estou fazendo uma apologia ao crime, e nem sou adepta do método Robin Hood, mas gostaria que reformas fossem feitas para que todos tenham as mesmas oportunidades,para que as leis de fato funcionem para aqueles que não a respeitam.
  Talvez se esses dois meninos tivessem uma educação de qualidade, se os pais deles tivessem condições de lhes dar uma vida digna, isso não tivesse acontecido.
  Fui instrutora em uma oficina de artes de um deles, exatamente daquele que deu a facada no outro e o conheci quando era mais criança, seus sonhos, seus desejos simples de ter uma casa, de ter uma vida digna como de qualquer pessoa. Lamento muito por esse incidente, lamento por ele, pelo outro garoto, lamento  pelos pais deles, por mim, lamento por todos nós.
   A quem eu devo culpar?
   Será a punição uma solução?
  Acredito que a maior solução para a onda de violências geradas nessa sociedade é o entendimento do povo sobre o assuntos políticos.A falta de senso crítico da população brasileira e a  aceitação da corrupção como meio cultural, a aceitação da criminalidade como prática comum tem gerado em nossos jovens a sensação de que tudo podem fazer pois ¨não pega nada¨, jovens estes que deveriam ser o futuro do país.Que futuro é este que teremos?
 E preciso reação, é preciso cobrar dos governantes o cumprimento de leis, o repasse correto para os estados investirem em melhorias para a população, principalmente os mais carentes, é preciso acabar com essa política assistencialista de migalhas, acabar com a imunidade parlamentar e com tantas outras mazelas que trazem como consequência essa guerra civil que se instalou por todas as regiões.
  O que é prioridade para nós hoje? Partidas de futebol?
Culpemos a todos nós por esse incidente.O nosso descaso está levando o nosso futuro para o ralo.



Jaqueline Souza


quarta-feira, 14 de setembro de 2011

O Lado Social





    Numa roda de conversas, Murilo Nascimento relatou uma experiência dele com alunos da 8ª série sobre alguns questionamentos sobre o espetáculo Auto da Barca Amazônica.Veja:

Murilo: ¨Joguei uma questão prática para um aluno para que ele refletisse. Perguntei: Uma certa noite, você está morrendo de sede e quer comprar um refrigerante no comércio da esquina.Você sai de casa e logo adiante avista dois jovens parados na rua agindo de modo suspeito.Você sairia de casa nesta situação? E o jovem respondeu: Não! Não sairia.
Na mesma situação, perguntei: e se você saísse de casa e avistasse cerca de mil jovens na rua, você ainda sairia? E ele respondeu: Sairia e me juntaria a eles porque é o Auto da Barca Amazônica.¨
   Que situação é essa que faz com que você tenha medo de dois jovens parados na esquina e não tenha medo de mil jovens caminhando pelas ruas da cidade? Que magia é essa que faz com que jovens de toda a cidade de Abaetetuba se unam em confraternização em prol de um objetivo?
   Durante quatro anos em que o espetáculo foi realizado não ouvimos falar em nenhum caso de violência durante o evento.Pessoas de cidades e comunidades vizinhas veêm prestigiar com seus aplausos.Nas janelas das casas por onde o ABA passa,ficam as estórias contadas de avós para netos sobre os seres mitológicos que pairavam acenando docemente para as crianças, é a tradição da oralidade renascida.
   Economicamente falando, o ABA tem uma importância para as pessoas que contribuem com seu trabalho:  A dona da malharia,ss costureiras, os coreógrafos, o pipoqueiro, o vendedor de picolés enfim, trabalhadores que contribuem conosco de forma direta ou indireta e que tem uma importância fundamental para o sucesso do trabalho.Fazendo os cálculos em números, vamos supor que a dona da malharia ganhou cerca de três mil reais com a venda de camisetas.Ela pode contratar mais um funcionário.O funcionário que foi contratado estava há 3 anos desempregado, com o salário ele pode manter a mulher e os filhos.
  A costureira (geralmente as costureiras são mulheres simples da comunidade) recebeu uma encomenda de 150 figurinos e ganhou cerca de mil reais.Com esse dinheiro ela pode comprar um remédio para o filho que estava doente.

  O coreógrafo com o dinheiro do cachê pôde fazer um curso de aperfeiçoamento em Belém.
  O vendedor de pipoca e picolé vendeu cerca de 50 pipocas e mais 70 picolés e ganhou uma média de duzentos reais naquela noite.No dia seguinte ele pode comprar café e pão para a família.
 Essas histórias não aparecem nos holofotes do ABA, talvez existam outras que nós nunca iremos saber, mas as histórias dessas pessoas simples, humildes tem uma importância, um valor inestimável, imaterial para quem realiza o projeto todos os anos, tanto é que fazemos questão de produzir tudo dentro da cidade com as pessoas que fazem parte dela.

    Então eu pergunto: Como se muda uma realidade? Talvez a resposta esteja em um grupo de jovens que se reunem todos os anos e se confraternizam dando as mãos em corrente,protejendo com todas as energias possíveis o seu objetivo comum., o ABA, mesmo que inconscientemente tem o papel de tornar melhores as pessoas que o constroem.

   Abaetetuba na linguagem indígena significa terra de homens valentes e ilustres. Curiosamente  nossa sigla é a mesma do prefixo da cidade.Aba significa ilustre.Acabamos nos tornando pessoas assim: meninos e meninas/ homens e mulheres valentes, guerreiros desta terra tão sofrida e tão ilustre.
                                                                                                                        Jaqueline Souza.