EDUCAÇÃO E ARTE: SONHAR, CONSTRUIR, REALIZAR.

Sobre o ABA

Projeto premiado com a XI edição do Prêmio Arte na Escola Cidadã do Instituto Arte na Escola/ Fundação IOCHPE como a melhor iniciativa em artes do ensino médio em 2010.
O Auto da Barca Amazônica é uma iniciativa em ensino de artes para alunos de escolas públicas.O espetáculo foi criado em 2007 pelos professores Jaqueline Cristina Sosi , artista da cena e Paulo Anete, carnavalesco.A iniciativa tem por objetivos trabalhar a linguagem cênica (teatro, dança circo e cenografia) que resulta na produção de um grande cortejo que sai pelas ruas da cidade de Abaetetuba,localizada na região do baixo Tocantins, estado do Pará
Fiquem à vontade e divulguem nosso trabalho.

Palavras chave:
educação; arte; cortejo;carnaval;circo;teatro;dança

domingo, 2 de outubro de 2011

O Espelho no Espelho - Michael Ende






CHOVIA INTERMINAVELMENTE NA SALA DE AULA. Fedia a pântano, pois as tábuas do
assoalho se haviam decomposto em turfa devido à eterna umidade, as paredes estavam cheias de bolor e em
muitos lugares cresciam enormes teias de salitre nevado. Os vidros das três janelas altas e estreitas eram
compostos de material fosco para que os alunos não tivessem sua atenção desviada pela possibilidade de olhar para fora.
A porta do corredor da escola havia sido pintada várias e várias vezes, e tinha a cor de um espinafre
velho e choco. Podia-se ler ainda, no quadro-negro, do lado frontal do aposento, os restos de uma fórmula
qualquer: ... é um ponto no vácuo... vai ao tempo t na velocidade da luz... d... dt...
Na alta cátedra, negra como breu, diante da parede do quadro, jazia como que em câmara ardente o
corpo inerte de um rapaz de provavelmente uns quatorze anos. Ele estava vestido com a malha justa de um
equilibrista, coberta aqui e ali com remendos. A fita branca que trazia na cabeça mostrava na testa uma
mancha vermelha redonda. Evidentemente que se tratava de um sinal, pois era bem regular, coisa que não
poderia ter ocorrido com perda de sangue.
Nos bancos escolares estavam sentados apenas seis alunos – dois homens, duas mulheres e duas
crianças – cada qual afastado do outro, cada um por si. Todos estavam debaixo de seus guarda-chuvas,
escrevendo ou com olhar perdido à sua frente. Bem na frente estava sentado debaixo de um guarda-chuva
negro um homem de idade indefinível, vestido de maneira correta. Seu rosto parecia pálido sob o chapéu preto
e engomado e, com exceção dos olhos um pouco esbugalhados e aquosos, ele não apresentava traços
característicos. À sua frente, no púlpito, havia uma pasta. Próximo da porta estava sentado um homem
barbudo, de óculos, vestido com um guarda-pó branco. Ele segurava um guarda-chuva de material plástico
transparente e, de tempos em tempos, voltava a olhar para seu relógio de pulso. No lado da janela, uma
mulher muito gorda aboletara-se no banco pequeno demais para seu corpo, de tal modo que seus enormes
seios estavam caídos sobre o púlpito. Seu guarda-chuva era florido. Algumas fileiras atrás dela, estava sentada
uma jovem senhora de pernas longas, delgada, com um vestido de noiva, debaixo de um guarda-chuva branco
com bordas rendadas. Bem atrás, na última fileira, estavam sentadas a duas crianças. Uma delas, uma
menininha, tinha um guarda-chuva de papel oleoso. Seus cabelos eram longos e negro-azulados, e os olhos
eram amendoados e escuros como a noite. O garoto, do outro lado, parecia bem desleixado. Ele era pequeno e
tinha as faces estreitas e bem sujas. Suas roupas estavam rasgadas e seu nariz escorria a todo o momento, ele o
enxugava na manga da camisa. Nas costas ele trazia asas muito grandes e brancas, que estavam úmidas de
chuva, desgrenhadas e bem caídas. Seu guarda-chuva era composto apenas de uma armação vazia, na qual
pendiam alguns farrapos de coloração azul clara.
Todos estavam calados, pois era terminantemente proibido bater papo. Somente a chuva caía
ininterruptamente. Finalmente, o homem de guarda-pó branco, após mais uma olhada em seu relógio,
inclinou-se na direção do sujeito vestido cor-retamente e perguntou aos sussurros:
– Desculpe-me, por favor, mas será que o senhor sabe quando é que chega o professor?
A pessoa a quem ele se dirigiu levou o dedo à boca. Depois balançou a cabeça e, após alguns instantes,
segredou:
– Nunca se sabe quando ele vem ou se ele porventura vem. Mas a droga é que ninguém está aqui
quando ele vem.
O homem de guarda-pó branco balançou a cabeça suspirando.
– Foi o que imaginei. Posso perguntar por que o senhor está aqui?
O outro fez-lhe um sinal e olhou à sua volta na sala. Mais uma vez ele deixou passar alguns minutos
antes de responder:
– Quero completar meus conhecimentos de matemática. A propósito, sou funcionário público.
– Ah – Disse o homem barbudo de guarda-pó branco. Mas qualquer um notava que essa informação não
o deixara satisfeito.
Ele ficou olhando para seu relógio durante um bom tempo. Em seguida, escreveu alguma coisa em um
pedaço de papel e estendeu-o para seu companheiro de conversa.
Quer dizer que o senhor está aqui voluntariamente?, foi o que este leu. Ele virou o papel e escreveu nas
costas: Sua pergunta não vem ao caso. Estou cumprindo minha obrigação.
Quando o homem de guarda-pó branco leu a mensagem, disse em voz semi-alta e com tom de voz
rebelde.
– Aliás, eu não estou aqui de livre e espontânea vontade. Sou médico, mas me cassaram a licença por
causa de uma estúpida ninharia. E agora eu preciso começar do começo. Acho isso terrível.
– Tudo começa de novo do princípio – respondeu friamente o homem vestido de maneira correta. – A
vida é uma repetição. Com que direito o senhor quer ser a única exceção?
– Não conversem tão alto – gritou a noiva à meia voz para os dois. – Podem ouvir vocês, aí todos nós
teríamos de ficar de castigo depois da aula.
– Se vocês me perguntarem – a gorda intrometeu-se na conversa – eu acho que a gente simplesmente
devia ir para casa. Estou com fome.
O funcionário se virou na direção dela e a examinou com seu longo e vazio olhar.
– Não é possível – disse ele friamente –, a porta está fechada.
Seguiu-se novamente um longo silêncio. Somente a chuva caía continuamente.
– Eu gostaria de saber – murmurou para frente o garoto com as asas úmidas de chuva – que tipo de
tempo está fazendo lá fora. Talvez já sejam férias lá fora.
A menininha com olhos amendoados sorriu para ele e sussurrou por trás das mãos levantadas:
– Lá fora é o paraíso, mas não podemos abrir as janelas.
– O que é lá fora?
– O pa-ra-í-so
– Não conheço. Que negócio é esse?
– Você não conhece?
– Não, nunca ouvi falar.
A menina deu uma gargalhada.
– Não acredito nisso. Então você não é nenhum anjo?
– Puxa, que coisa é essa? – perguntou o garoto.
A menina de olhos amendoados ficou olhando para frente durante algum tempo e depois sussurrou:
– Olha, na verdade eu também não sei o que é o paraíso.
– Então por que é que você fala nisso? – disse o garoto.
– Mas eu sei que ele está sempre ao lado – prosseguiu a menina. – Todo mundo sabe disso. Só existe
uma parede no meio, muitas vezes de pedra, às vezes de vidro e também tem de papel-seda. Mas está sempre
do lado.
– Então a gente não podia simplesmente quebrar o vidro? – propôs o garoto, corando com a própria
audácia. – Isso é, se é que vale mesmo a pena.
A menina encarou-o com um ar triste e sussurrou:
– De nada adiantaria. Ele está sempre do lado, portanto nunca está onde nos encontramos. Se
estivéssemos do outro lado, ele já não estaria mais lá. Mas agora ele está lá. Com toda certeza.
– Fiquem quietos! – gritou a noiva com voz reprimida. – Acho que alguém está vindo.
Todos ficaram escutando, mas só se podia ouvir a chuva.
O médico levantou-se e foi à cátedra, na qual jazia o rapaz com roupa de equilibrista como se estivesse
em um catafalco. Ele precisou subir na cadeira atrás da cátedra para poder observá-lo.
– Não seria melhor se o senhor fizesse seu dever? – perguntou o funcionário público levantando a
sobrancelha. – Talvez este seja meu dever – respondeu nervoso o médico.
Durante algum tempo ele ficou examinando o rapaz, calado, experimentou-lhe o pulso, abriu
cuidadosamente com o polegar e o indicador um dos olhos. Apalpou aqui e ali e finalmente balançou a cabeça
desanimado. Desceu e foi se sentar em seu lugar.
A velha gorda, que prestara atenção nele com crescente curiosidade, gritou nesse momento tão alto, que
todos estremeceram chocados:
– A doença! Diga pelo menos de que ele morreu!
– De chuva! – respondeu o médico de modo brusco.
– Talvez – sussurrou a menina de olhos amendoados para o rapaz com as asas encharcadas –, talvez o
paraíso seja onde nunca chove.
– Ou pelo menos onde não chova sempre – disse o rapaz mais para si mesmo. – Onde só chova de vez
em quando.
– Agora você se lembra? – segredou a menina.
Mas o garoto não respondeu, a única coisa que fez foi ficar olhando pensativamente para frente.
A menina se levantou e, com passos tímidos, caminhou até a cátedra. Ela escalou a cadeira. Dali, foi até
o rapaz com roupa de equilibrista. Agachou-se ao seu lado, tomou-lhe a cabeça no colo e segurou o guardachuva
de papel sobre ele. Todos ficaram olhando com admiração.
– Mas, e se o professor aparece... – gritou medrosa a noiva.
– Talvez ele seja o professor – disse o jovem com asas, levantando-se. Todos se viraram na direção dele.
– Podia ser – murmurou ele, ficando vermelho de novo. Ele foi até a frente com as asas arrastadas,
galgou a cátedra com decisão e ficou segurando a armação de seu guarda-chuva em cima do corpo esticado do
garoto.
– Besteira! – disse o funcionário com desdém.
– Não é coisa nenhuma! – respondeu teimosamente o jovem. – Ele já começa a respirar.
O médico se levantou, tornou a galgar a cadeira e colocou a mão no peito do rapaz, curvando-se sobre
sua boca para escutar.
– Dois não bastam – gritou então – tragam mais guarda-chuvas!
Todos foram à frente e esticaram protetoramente os guarda-chuvas sobre o rapaz. A menina de olhos
amendoados inclinara-se sobre sua cabeça e, com cuidado, retirou-lhe a fita com a mancha vermelha circular.
Seus longos cabelos negros envolveram os dois rostos.
De repente, o garoto com roupa de equilibrista respirou fundo, tossiu algumas vezes e se sentou.
– Obrigado – disse ele olhando para os rostos que se aglomeravam à sua volta. – A coisa, dessa vez, foi
longe. Que estão fazendo aqui?
– Estamos esperando o professor – respondeu a noiva.
– Por acaso não é você? – perguntou o rapaz de asas.
– Ora, escutem uma coisa – disse o rapaz –, será que eu pareço um professor?
– Nós não sabemos como é a aparência dele – explicou o médico.
– Por favor, não fale em nome de todos nós! – O funcionário público o pôs em seu devido lugar. – Estou
aqui há muito mais tempo do que o senhor.
O rapaz com roupa de equilibrista soprou algumas gotas da ponta de seu nariz e sorriu.
– Bem, a verdade é que ele ainda não chegou aqui. Nós devíamos tentar sair daqui. Ou será que vocês
estão gostando?
– Não se trata disso – replicou o funcionário –, também existe uma coisa chamada senso de
responsabilidade. Ninguém tem o direito de fugir da realidade, muito menos quando esta é desagradável.
O rapaz com roupa de equilibrista ficou balançando as pernas na cátedra.
– Vocês já notaram – perguntou ele suavemente – que basta fechar os olhos por alguns minutos?
Quando a pessoa os abre de novo, se encontra numa outra realidade. Tudo muda continuamente.
– Quando a gente fecha os olhos – disse o garoto com as asas encharcadas – a gente morre.
– Está bem – disse o rapaz de cima da cátedra – dá no mesmo. Nós também mudamos, já que não há
nenhum inconveniente. Eu era um outro e, de repente, sou esse daqui.
A mulher gorda assentiu.
– Justamente, meu jovem. E que foi que você lucrou com isso?
– Nada – respondeu o rapaz –, por que é que a pessoa teria de lucrar alguma coisa?
– De qualquer modo – esclareceu o funcionário – eu vou continuar aqui e informarei ao professor tudo
que aconteceu aqui, palavra por palavra.
– Como quiser – disse o rapaz saltando da cátedra –, eu só estou aqui de passagem.
– Mas não se pode sair daqui – disse a noiva. – A porta está fechada.
– Pode-se sair de qualquer lugar – replicou o rapaz –, quando se consegue mudar o sonho.
– Como é que isso funciona? – perguntou a menina de olhos amendoados. E o rapaz de asas
acrescentou:
– O que significa mudar o sonho?
– Tudo isso é besteira! – gritou o funcionário.
– Mudar o sonho – disse o rapaz com roupa de equilibrista – significa inventar uma nova história e
depois entrar dentro dela. Afinal de contas, o que é que vocês aprendem aqui nessa escola, se nem ao menos
sabem disso?
– Onde foi que você aprendeu isso? – a mulher gorda quis saber.
– Com um mudador de sonhos que eu mesmo inventei – respondeu o rapaz.
– E você consegue mesmo mudar sonhos? – perguntou a menina ofegante. – E você pode ensinar isso
para nós? – Claro! – replicou o rapaz. – Aliás, sozinho é a maneira mais difícil. De dois fica bem mais fácil. E
quando muitas pessoas fazem a coisa juntas, então aí sempre se consegue. Todos os verdadeiros mudadores de
sonho sabem disso.
– Então como é que a gente deve fazer para inventar uma nova história? – procurou se informar a noiva.
– A maneira mais fácil – explicou o rapaz – seria se todos nós representássemos uma peça de teatro.
– Ai, meu Deus do céu – lamentou-se a mulher gorda –, eu não consigo decorar muito texto.
– Para quem devemos representar? – perguntou o médico.
– Para nós mesmos. Nós somos platéia e atores ao mesmo tempo. E o que vamos representar é a
realidade.
– Mas o que devemos representar? – quis saber o garoto com asas.
– A gente nunca sabe antecipadamente – respondeu o rapaz. – A gente simplesmente começa.
– Mas isso pode ser um tremendo fracasso – opinou a noiva. – E depois, que será de nós!
O rapaz deu de ombros.
– Aquele que já quiser saber com antecipação é porque não sabe mudar sonhos.
– Mas será que a gente não precisaria de um palco? – perguntou a menina com olhos amendoados. – E
uma cortina?
– Incondicionalmente! – disse o rapaz com roupa de equilibrista. Ele pegou sua fita de cabeça empapada
de chuva e, enquanto a menina o protegia com o guarda-chuva de papel, foi ao quadro-negro e com o lenço
limpou cuidadosamente os últimos vestígios da fórmula. Em seguida, virou-se para os outros.
– Vocês poderiam secá-lo?
– Não vai adiantar muito – opinou o médico –, daqui a pouco a chuva vai encharcá-lo de novo.
– Bastam alguns minutos – explicou o rapaz. Ele abriu a gaveta da cátedra e encontrou ali dentro alguns
pedacinhos de giz colorido. Nesse meio tempo, os outros haviam secado – até onde fora possível – o quadronegro
com seus lenços de bolso ou mangas de paletó. O médico chegara a tirar o guarda-pó branco para
utilizá-la como esfregão.
– Já basta – disse o rapaz. Em seguida, com uns poucos traços, ele pintou um palco de teatro sobre o
quadro-negro, a cortina estava puxada para cima à esquerda e à direita, e o cenário atrás mostrava um longo
corredor cheio de portas.
– A gente precisa deixar todas as possibilidades em aberto – disse o rapaz, enquanto fazia os últimos
traços –, atrás de uma dessas portas nós vamos encontrar alguma coisa que nos agrade.
E, com um salto, ele pulou para dentro do quadro que acabara de pintar. Os outros ficaram olhando
arrebatados, enquanto ele ficava passeando de um lado para o outro no palco.
– Venham! – gritou ele. – Rápido! A chuva!
Primeiro, subiu no palco o menino com asas, em seguida foi a vez da menina de olhos amendoados.
Depois dela veio a noiva. A mulher gorda precisou ser empurrada por trás pelo médico e puxada pela frente
por aqueles que já lá estavam. Em seguida, o próprio médico pulou. Somente o homem corretamente trajado
continuou ali embaixo, com seu guarda-chuva preto, sem conseguir tomar uma decisão.
O rapaz com roupa de equilibrista inclinou-se mais uma vez para fora do quadro e estendeu-lhe a mão.
– O senhor não está querendo vir junto? – perguntou ele.
O homem balançou a cabeça.
– Acho que não acredito nisso.
– O senhor não precisa acreditar. Entre simplesmente.
– Mas... – o funcionário público deu um passo atrás – não sei o que vocês pensariam de mim. Não me
encaixo na peça de vocês.
– Nós não pensamos nada do senhor – respondeu o rapaz –, mas todo mundo se encaixa na nossa peça.
Sobre o quadro já corriam por toda parte algumas gotas de chuva, tornando-o indistinto.
– Eu preferiria não ir – disse o homem.
– Que pena – gritou o rapaz, em seguida ele se inclinou como um artista de circo. – Passe bem!
A cortina foi baixando pouco a pouco nos dois lados. Então, no último instante, o homem tomou
coragem, dobrou o guarda-chuva, enfiou a pasta debaixo do sovaco, segurou o chapéu e saltou por entre a
abertura da cortina, que se fechou por trás dele.
Pouco a pouco a chuva contínua foi apagando a imagem do quadro-negro.

Tempo de Refletir

`´É hora de parar, calar, meditar e refletir sobre nossas ações daqui pra frente. O momento não está favorável para nós, porém temos algo que ninguém nunca poderá nos tirar: esperança.
 Vamos levantar a cabeça e procurar soluções. Não deixemos que a política do descaso contamine nossas mentes e corações.Estamos juntos.